Avançar para o conteúdo principal

Vêm aí as eleições autocráti^H^H^H autárquicas

Eleições autárquicas

Vejo em todos os lugares uma profusão de obras, de renovações, de betão. Ora é o jardim que está a ser arranjado, ora é o passeio que anda a ser renovado, ora a rotunda n.º 10203 está a sofrer a sua sexta renovação. As máquinas ouvem-se, alguns piropos a uma mulher mais jeitosa saem da boca dos trabalhadores, há pó no ar, e nós sentimo-nos aconchegados.

Aconchegados?

Pois é, não foi erro. Disse mesmo aconchegados. Agora sim, com tanto betão estamos certos de que existe um Estado. O Estado, segundo o que nos dizem, existe para cobrir o país de obras artificiais, com ou sem utilidade. Essa coisa de utilidade não interessa. O que interessa é haver pó no ar, barulho de máquinas e piropos a soar.

Há um problema: essas obras são feitas contra nós e com o nosso dinheiro

Contra nós? Mas as obras não são boas?

Depende. Há obras que são boas. A maior parte delas não. Que utilidade existe em se renovar uma rotunda perfeitamente funcional para se lá colocar uma estátua do primo do amigo do presidente de câmara? Que utilidade existe em se fazer uma piscina no bairro se existe uma outra funcional a menos de dois quilómetros? Que utilidade existe em se fazer uma estrada paralela a uma outra, se a existente está longe de ter tráfego mensurável? Que utilidade existe em se fazer uma sala de congressos que apenas albergará no fim do ano a festa de Natal dos funcionários da câmara?

Mas as obras criam empregos... não criam?

Pois criam, mas apenas por um momento. Em boa verdade, os empregos que se criam hoje serão transferidos amanhã para o estrangeiro, visto que o dinheiro dos juros da dívida vai ser subtraído às famílias através de impostos, e pago aos estrangeiros que nos emprestam dinheiro. Um estrangeiro será amanhã beneficiado por me haver emprestado dinheiro, pela simples razão de que ninguém está a fazer um esforço para pagar a dívida. Na verdade, estamos a criar uma teta eterna para um estrangeiro qualquer.

Mas as obras já estão pagas!

Na verdade não. Se virmos bem, uma obra que tenha sido feita há vinte anos atrás não só não foi paga como continua a pagar juros. E isso eu juro! Como a dívida se tem mantido nos mesmos valores, temos de considerar que cada compra e cada obra se deve valorizar à taxa de desconto do empréstimo de tesouraria, a taxa mais elevada que um município paga.

Consideremos uma obra inútil (estátua e jardim numa rotunda que até já estava calcetada) de EUR 100.000 a pagar a vinte anos à taxa de 3%. A taxa máxima de juro pago pelo município é de 5%. A manutenção fica a 5% do montante da obra, paga à empresa de jardinagem e ao empereiteiro.

Quanto custa a obra anualmente? Entre serviço de dívida (5% + 3%) e manutenção (5%), a obra, dir-se-á, custa EUR 13.000 anuais. Era bom que assim fosse, mas não é. É que se a obra não existisse, era menos EUR 100.000 no empréstimo de tesouraria, esse perpétuo. Logo há que adicionar os 5% de juros anuais desse empréstimo. A obra custa então EUR 18.000 anuais. Portanto, duplica o preço a menos de 6 anos. Dessas despesas anuais 8%, ou oito mil euros, são em juros. Um banqueiro está a esfregar as mãos.

Ao fim de vinte anos, a obra custa qualquer coisa como EUR 360.000. Sim, trezentos e sessenta mil euros, mais de três vezes o que foi orçamentado e pago ao empereiteiro. Esses trezentos e sessenta mil euros vêm dos meus e dos seus impostos, caro leitor. Repercutem-se no preço da água que lhe trazem para casa, fonte de financiamento dos municípios.

Repercutem-se na multiplicidade de licenças e de taxas, de alvarás pagos e de autorizações a peso de ouro que os municípios lhe exigem até para fazer uma capoeira ou para colocar uma câmera de segurança no seu terreno.

Mas se as obras são tão más, porque é que as fazem?

As obras são feitas porque beneficiam os políticos que as mandam fazer e os empereiteiros que as executam. Os empereiteiros (que não são burros nenhuns!) usam parte desse dinheiro em financiamento dos partidos no poder, e até por vezes em subornos aos decisores. Os bancos adoram as obras públicas porque ficam com uma fonte de rendimento perpétuo, em juros que nunca acabam. No fundo, trata-se de usar o nosso próprio dinheiro para comprar os nossos votos, como se de uma benesse se tratasse.

Portanto, e creia que tenho razão, a culpa desta situação é minha e sua. Por isso, estou a considerar pela primeira vez na minha vida votar em branco (anulando o voto, pelo sim, pelo não). Estou, caro leitor, farto deste socialismo extorsionista, que vive para enriquecer políticos que compram o nosso voto com o mesmo dinheiro que roubam aos nossos próprios bolsos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Morra aos 70. Não fica cá a fazer nada. Dizem os democrápulas.

Um sistema público e universal de pensões e de saúde mais cedo ou mais tarde terá de dar nisto: na limitação de vida das pessoas.  O que os democrápulas americanos chamam «aconselhamento de fim de vida» é mesmo isso: aconselhar as pessoas que já estão a tornar-se um peso no sistema (e que tendem a ter juízo e a votar conservador) a abdicar da sua vida e a deixarem-se matar. Que ideia exagerada, painéis de morte! Não há nenhum sistema público de saúde ou de pensões que não venha a ser arrebentado por dentro pelo hábito persistente de as pessoas se deixarem viver mais anos na vã esperança de que os seus netos se resolvam a sair da casa dos pais e a constituir família antes do aparecimento das primeiras rugas neles. Como as mulheres portuguesas não querem ter filhos (e não me venham com essa do não podem ou do teriam se...), o sistema de segurança social teria cinco anos a funcionar.  Teria se a guerra não viesse entretanto, como estou convencido de que virá. No fundo isto funci

Partido libertário em Portugal?

Partido Libertário Português Ao que parece, alguém criou um tal Partido Libertário Português. Estava à procura de partidos libertários na Europa quando dei com isto. Parece ser criação recente e, além da tralha no Livro das Fuças , não parece ser dotado ainda de personalidade jurídica. Não escondo que se fosse britânico o UKIP teria o meu voto; mas nunca, sendo francês, votaria na Frente Nacional. A Frente Nacional é estatista e tão neo-totalitária como os comunistas. Nada de bom advirá dela. O UKIP, por seu turno, é liberal e, como eu, defende um estado pequeno. Esta entrada num dos blogues do The Spectator diz tudo: a Frente Nacional é estatista, o UKIP libertário. Termino com um vídeo de Nigel Farage, o eurodeputado estrela do UKIP onde acusa consubstanciadamente da União Europeia de ser o novo comunismo. Com carradas de razão.

Vou fazer uma pergunta.

Isto de subir o peso do Estado, de nos fazer pagar mais impostos para manter os privilégios de alguns e os empregos de demasiados funcionários públicos, e de sufocar as empresas com regulações e autorizações e alvarás e licenças é: Neo-liberal? Neo-totalitário? Perfeitamente imbecil? Note-se que pode escolher duas respostas, desde que inclua nestas a terceira.